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Deus delegou ao homem a responsabilidade de cuidar, proteger e sustentar sua família. Para realizar essa tarefa, Ele o revestiu de autoridade. Essa mesma responsabilidade repousa sobre o pastor da igreja em relação ao rebanho que Deus confiou a ele. Esse rebanho inclui as crianças. Eu não poderia começar falando desse assunto senão falando àqueles que Deus estabeleceu como ca­beça, os pastores. Por que a criança é membro do corpo? Porque somos um só rebanho, porque somos uma família e porque somos um corpo.

Um só rebanho

A verdade é que Deus confiou a cada pastor um rebanho, no qual as crianças estão inclusas. Todos precisam de cuidado, de alimento, de proteção. Cabe ao pastor suprir as necessidades de cada um. Embora a responsabilidade do rebanho seja confiada ao pastor, ele pode delegar tarefas a outros líderes, como o trabalho infantojuvenil, por exemplo. As crianças estão no coração de Deus. Ele está movendo no meio delas como jamais o fez antes. Chegou o tempo da grande colheita entre elas. Mas isso não acontecerá com um simples trabalho com crianças que não ameace o inferno, mas através de líderes intercessores e profetas que geram. É tempo de as igrejas saírem de uma estrutura pequena e inexpressiva e estabelece­rem ministérios com pastores de crianças que gerarão verdadeiros discípulos de Jesus. É preciso que os pastores enxerguem as crianças com os olhos de Deus, e ajam em relação a elas da maneira como Deus espera que seja feito. Primeiro, porque sabemos que é a vontade de Deus que as crianças sejam alcançadas com o evangelho (Mt 18:14). Segundo, porque temos constatado que a igreja é abençoada e cresce quando as crianças são levadas a sério. E por fim, investir nas crianças é expressão de amor. Elas têm necessidades espirituais assim como qualquer outra pessoa.

Somos uma família


Em uma família em que há crianças pequenas, exige-se um trabalho maior dos pais. Pais responsáveis jamais colocam qualquer pessoa para cuidar de seus filhos. Ao escolher alguém para isso, eles se preocupam em checar se a pessoa preenche os requisitos que eles mesmos estabeleceram. Uma vez aprovada, eles acompanham o trabalho dessa pessoa. Pais fazem isso com seus filhos porque eles os amam e se preocupam em lhes dar o melhor. A igreja é como essa família. Obviamente o pastor não tem condições de fazer isso com todos, mas é dele a responsabilidade de delegar e checar se o trabalho está sendo bem feito e se os filhos pequenos estão sendo bem cuidados. Infelizmente, em relação às crianças, tem havido muita omissão e, em alguns extremos, até mesmo negligência. Pelo fato de as crianças não serem contadas como membros, são também esquecidas, e crescem dentro da igreja como um re­banho sem pastor. Isso não traduz o coração de Deus. É possível ter um trabalho estruturado e frutífero com as crianças, mas o pastor deve ser o primeiro a desejar isso, pois ele é a pessoa-chave para que o trabalho com crianças na igreja aconteça e para que pessoas capacitadas sejam estabelecidas como líderes.

Somos um corpo


Além da família, Deus compara Sua igreja com um corpo, no qual todos os membros são importantes e merecem atenção. O dedinho mindinho, por exemplo, é um dos menores membros do nosso corpo. Quando o machucamos, todo o corpo sente, porque ele faz parte do corpo e, embora seja pequeno, sua condição afeta todo o resto do corpo. Por isso, ele precisa de cuidados, assim como todos os outros membros do corpo. No corpo de Cristo, as crianças representam esse dedo mindinho. Embora pequenas, elas merecem e precisam de cuidados, pois também fazem parte do corpo.

Jesus incluiu o pastoreamento das crianças no seu discipulado


Há quase dois mil anos, Jesus falava a um grupo de discípulos sobre o valor das crianças aos olhos de Deus: “Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18:1-4). Aqueles homens viriam a ser os primeiros pastores da igreja. Jesus sabia que era vontade de Deus que o evangelho fosse pregado às crianças, e seus discípulos precisavam entender isso. Hoje, os pastores de igrejas ocupam a mesma posição dos discípulos daquela época. A mesma responsabilidade que Jesus passou àqueles pastores há dois mil anos é confiada aos pastores hoje. Se Jesus teve tempo para elas, você também pode ter. O que Jesus falou aos discípulos é o mesmo que Ele fala hoje aos pastores. Ele mencionou quatro princípios/atitudes que deveriam ser observados em relação às crianças:

1. Recebê-las (Mt 18:5)
A primeira atitude que Jesus exorta Seus discípulos a ter é receber as crianças como se estivessem recebendo o Senhor. Creio que Ele estava fa­lando basicamente de duas coisas:

a)    Receber as crianças é incluí-las na vida normal da igreja
Vamos nos colocar no lugar dessas crianças. Quando vamos à casa de alguém, a maneira como somos recebidos mostra se somos esperados ou não. Creio que Jesus estava nos mostrando que elas precisam ser recebidas no corpo de Cristo assim como os outros membros são. Muitas vezes, as crianças são subestimadas, porque achamos que elas não reparam nessas coisas. Engano! Elas percebem tudo e sabem muito bem quando são valorizadas. Além disso, estamos passando uma imagem de Deus para elas. Se não acharem que a igreja é o lugar delas, não vão querer estar lá quando crescerem. Precisamos atrair as crianças para a igreja de maneira que jamais duvidem que ali é o seu lugar.

b)    Recebê-las como se estivessem recebendo Jesus
A segunda coisa que Jesus disse ao afirmar que deveriam recebê-las, é que deveriam fazer isso no Seu nome, ou seja, deveriam ser recebidas como se estivessem recebendo o próprio Jesus. Ele estava dizendo aos discípulos que, assim como eles O con­sideravam uma pessoa especial e importante e o tinham em grande consideração, deveriam fazer o mesmo com aquela criança. Recebam-na como se fosse a Mim.

Recebê-las com o melhor
Como você, pastor, tem recebido as crianças em sua igreja? Se você soubesse que Jesus, em pessoa, estaria presente em sua casa, como você O receberia? Se você é alguém que ama a Jesus, com certeza você O receberia com o melhor! Esse princípio tem sido ignorado há anos. Mas é tempo de mudar. Jesus tinha convicção de Seu cha­mado aos 12 anos de idade. Se Ele é referencial para nós no ministério, é também na Sua infância. É preciso mudar essa realidade. A razão, na maioria das vezes, de não haver trabalho com crianças é a falta de dinheiro, o que também explica a falta de material de qualidade e a falta de líderes preparados. Justamente porque não investem em nada disso é que nada têm. A minha experiência como pastora tem confirmado o que Deus já declarou: que todo aquele que crê, recebe; aquele que busca, encontra; aquele que bate, abrir-se-lhe-á. Deus é quem supre todas as nossas necessidades. Precisamos de pastores dispostos a crer e a obedecer. Se hoje temos experimentado da abun­dância de Deus, é porque acreditamos nela e também porque temos um pastor que anda em linha com o coração de Deus. Nosso pastor tem investido nesse trabalho, e por isso mesmo temos colhido muitos frutos. O pastor que ama e reconhece as necessidades espirituais das crianças dá o melhor e não o que sobra!

Receber Jesus é receber o reino
Receber Jesus era o mesmo que receber o reino. Da mesma forma, quem não O recebesse estaria rejeitando a Jesus e Seu reino. Aonde Jesus chegava, o reino chegava junto. O reino significa onde Deus reina. E Jesus manda Seus discípulos receberem uma criança da mesma maneira que receberiam a Ele. Ao receberem-na, eles estariam recebendo também o reino. Deus reina no meio das crianças, pois elas O recebem com simplicidade. Isso agrada a Deus. Investir nas crianças é investir no reino (Mc 10:14).

2. Não fazer tropeçar (Mt 18:10)
Jesus falava em relação às crianças. Como é possível fazer uma criança tropeçar? Ao colocar empecilhos no meio do caminho que dificultem o seu caminhar em direção a Jesus. Penso que não é essa a intenção dos pastores, mas uma atitude de indiferença gera exatamente isso. Jesus sabia que tropeços acontecem quando empecilhos são colocados ou deixados no meio do caminho e acabam impedindo ou atrapalhando o caminhar dos pequeninos. Vamos ver como isso é possível.

A mentalidade errada em relação às crianças pode ser um empecilho
Certa vez, Jesus ficou indignado com os discípulos que tentaram impedir que um grupo de crianças se aproximasse d’Ele. Marcos registra esse fato e diz que Jesus os repreendeu dizendo: “Não os embaraceis!” Isso acontece quando pastores agem com a mesma intenção e motivação dos discípulos, dizendo: “As crianças atrapalham a reunião, elas não entendem a pregação, elas são muito pequenas, não precisam participar do louvor, não precisam receber oração, não estão na época de ter um encontro com Deus etc.” Quando esse tipo de atitude é a prática normal da liderança da igreja, ela se torna empecilho para que as crianças conheçam a Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas. Elas ficam embaraçadas, confusas, porque não conseguem tocar em Jesus, ficam apenas como espectadoras. Sei que é assim, porque essa foi a minha experiência quando criança. A intenção dos pastores na época era boa, mas a mentalidade em relação às crianças não me conduziu a Jesus, apenas serviu para embaraçar o meu caminho. Hoje, as crianças podem ter uma experiência diferente da minha, elas podem conhecer e receber Jesus ainda em sua infância. Mas é preciso remover o empecilho da mentalidade errada para que não tropecem. Elas não tropeçam quando têm um referencial à imagem de Deus. O pastor é um referencial de autoridade e do amor de Deus para elas. Por isso, as crianças precisam ver nele a imagem de Jesus. Isso as atrairá para a igreja, pois entenderão que Deus as aceita e as ama. Pastores precisam ser pessoas que atraiam as crianças para si e para a igreja. Assim estarão atraindo-as para Jesus.

Não deixar tropeçar é prova de amor
A prova de amor do homem de Deus é dar. Porque foi essa a prova de amor que Deus nos deu. Ele deu o Seu Filho. Deus nos exorta a expressar nosso amor em atitudes práticas (1 Jo 3:18). Amar implica dar, dar implica ação. Não basta não fazer tropeçar. Os pastores são responsáveis por abrir caminho para elas terem acesso Àquele que é o caminho, a verdade e a vida. Essa é a única garantia de que elas não tropeçarão nos enganos do diabo.

3. Não desprezar (Mt 18:10)
O desprezo é uma palavra muito forte. Expressa algo negativo em relação a uma pessoa. Desprezo é a atitude de ignorar o outro, não fazer caso de alguém, não dar importância. Jesus usou um termo muito forte, desprezo, para expressar aquilo que estava no coração de muitos em relação às crianças. Penso que, se Ele falou assim, é porque de fato isso acontece. Jesus advertiu Seus discípulos para não desprezarem os pequeninos. Se Ele viu que precisava falar sobre isso, é porque havia o risco de acontecer ou já estar acontecendo. Isso não deve acontecer na igreja. A igreja é o lugar onde todos são aceitos como são, onde todos devem ser valoriza­dos e amados. Jesus deixou claro que uma pessoa não precisa crescer para recebê-Lo, ela pode fazer isso na infância. Aliás, esse é o tempo que Deus preparou para que O recebamos.
Pra. Márcia S. Ribeiro
Pastora e fundadora do Ministério Radicais Kids em Goiânia (GO)